A área vitícola nacional tem cerca de 90 mil hectares. A partir da década de 80 acrescentou-se mais uma região importante na produção de uvas finas de mesa: o Semiárido Nordestino, Submédio do Vale do Rio São Francisco, as cidades de Petrolina em Pernambuco e Juazeiro na Bahia. Além das regiões já tradicionais, que incluem os três estados do sul, leste de São Paulo e sul de Minas Gerais. Sem dúvidas, o estado do Rio Grande do Sul é o que tem seu potencial produtivo mais disseminado, podendo-se encontrar produtores de uvas por todo o estado, Serra Gaúcha, Campos de Cima da Serra, Serra do Sudeste, Depressão Central, Campanha e Alto Uruguai. Ainda no Brasil de acordo com a IBRAVIN, os estados do Mato Grosso, Goiás e Espírito Santo também ficam listados como produtores de uvas de mesa, finas e vinhos.
O Rio Grande do Sul destaca-se pela evolução da quantidade de uvas processadas, no ano de 2001 a média para uvas Americanas e Híbridas foi de 384,9 milhões de quilos passando para 540 milhões de quilos em 2014. A Serra Gaúcha é o maior polo vitivinícola do país com cerca de 40 mil hectares plantados e produtividade média de 13 toneladas ha-1. O município de Antônio Prado possui uma área destinada a colheita de uva de 1.302 hectares, com produtividade média de 14,17 toneladas ha-1 e produção total de 18.458 toneladas, conforme dados do IBGE em 2014.
Ao longo dos anos, a viticultura vem sofrendo mudanças em diversos aspectos. Dentre os principais estão: a disseminação de áreas produtoras, o melhoramento genético de cultivares, o uso de reguladores de crescimento, os defensivos agrícolas, a irrigação e o manejo de poda. Sendo hoje, a antecipação de poda para diversas cultivares americanas, híbridas e viníferas, assunto de interesse, que ainda gera insegurança e se faz necessário alguns pré-requisitos para sua realização.
Os trabalhos de pesquisa com poda antecipada não são recentes. Há relatos em literatura que se remetem a 1999 no sul de Minas Gerais as primeiras investidas na antecipação da poda, manejo que tradicionalmente sempre se realizou no final do inverno, meados de agosto. Diferentemente do que vem sendo usado como justificativa para a realização desta prática no estado do Rio Grande do Sul, não foi a falta de mão-de-obra que acarretou o início da mesma. Mas sim, a necessidade de não haver concorrência e coincidência de safras entre o sul de Minas Gerais e a cidade de Jundiaí no estado de São Paulo nos meses de janeiro e fevereiro. Com a antecipação da poda, a colheita da uva passou a ser em meados de dezembro junto com as datas comemorativas de final de ano, onde a demanda e o preço eram melhores.
A prática da poda antecipada deve ser supervisionada por um técnico, que conjuntamente com o agricultor verifiquem a real necessidade e possibilidade para tal manejo. Algumas observações devem ser feitas para a realização da mesma: verificar o histórico de geadas na área em que a poda é pretendida, já que a região da Serra Gaúcha sofre com geadas no inverno e primavera, e a poda antecipada pode ser indicada para locais com verões longos; outro fator importante é a cultivar, que deve ser de maturação precoce e crescimento vigoroso. Em literatura há pesquisas com as cultivares, Isabel, Niágara Branca, Niágara Rosada, Concord e a vinífera Cabernet Sauvignon.
É interessante que cada agricultor verifique diariamente as temperaturas máximas e mínimas de onde o parreiral está instalado, podendo assim, computar a necessidade térmica em Graus-dias de acordo com o estádio fenológico em que a videira se encontra. Este é um método que pode auxiliar na tomada de decisão de alguns tratos culturais, como a poda, a previsão da colheita e otimização do uso de defensivos agrícolas. Cada cultivar tem uma necessidade térmica específica e pode variar com a região e o microclima em que é cultivada. Conforme pesquisas, a exigência térmica em Graus-dias para as cultivares Isabel, Niágara Branca, Niágara Rosada, Concord fica em torno de 1.500.
O cálculo para a verificação é simples, no qual: Temp máx é a temperatura máxima diária em °C, Temp mín é a temperatura mínima diária em °C e Temp base é a temperatura base da videira para todo o ciclo vegetativo, que é de 10°C, de acordo com Villa Nova et al., 1972.
, onde a Temp mín > Temp base.
, onde Temp mín < Temp base. E GD= zero quando, Temp máx < Temp base.
Tendo verificado cada um dos parâmetros acima, o técnico responsável pela área e o agricultor poderão decidir quanto à antecipação da poda. É preciso ainda pesquisas para gerar maior segurança sobre esta prática. Segue literaturas de onde as informações foram coletadas para a compilação deste texto:
http://www.ibge.gov.br/home
ANZANELLO, R.; SOUZA, P.V.D.; COELHO, P.F. Fenologia, exigência térmica e produtividade de videiras ‘Niágara Branca’, ‘Niágara Rosada’ e ‘Concord’ submetidas a duas safras por ciclo vegetativo. Revista Brasileira de Fruticultura, v.34, n.2, p.366-376, 2012.
FERREIRA, E.A.; REGINA, M.A.; CHALFUN, N.N.J.; ANTUNES, L.E.C. Antecipaçao de safra para videira Niágara Rosada na região sul do estado de Minas
Gerais. Ciência e Agrotecnologia, v.8, n.6, p.1221-1227, 2004.
GONÇALVES, F.C. Antecipação da produção de videira ‘Niágara Rosada’ na região de Lavras. 2005. 74p. Tese de Doutorado (Fitotecnia). Universidade Federal de Lavras, Lavras. 2005.
RADUNZ, A.L.; SCHOFFEL, E.R.; BORGES, C.T.; MALGARIM, M.B.; POTTER, G.H. Necessidades térmicas de videiras na região da Campanha do Rio Grande do Sul-Brasil. Ciência Rural, v. 45, n. 4, 2014.
ROBERTO, S.R.; SATO, A.J.; BRENNER, E.A.; SANTOS, C.E.; GENTA, W. Fenologia e soma térmica (Graus-dia) para a videira ‘Isabel’ (Vitis labrusca) cultivada no noroeste do Paraná. Ciência Agrária, v.25, n.4, p.273-280, 2004.
SILVA, R.J.L.; LIMA, L.C.O.; CHALFUN, N.N.J. Efeito da poda antecipada e regime de irrigação nos teores de açúcares em uvas ‘Niágara Rosada’. Ciência e Agrotecnologia, v.33, n.3, p.844-847, 2009.
TESSER, P.A. Épocas de poda seca e sua influência na brotação, produção e qualidade das uvas Cabernet Sauvignon e Isabel na Serra Gaúcha. 2013. 98p. Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul. 2013.
VILLA NOVA, N. A.; PEDRO JUNIOR, M. J.; PEREIRA, A. R.; OMETTO, J. C. Estimativa de graus-dia acumulados acima de qualquer temperatura base em função das temperaturas máxima e mínima. Ciência da Terra, n.30, p.1-8, 1972.